Brasileiro que migra ganha mais, aponta estudo mineiro

30 de Julho de 2013
por: Anderson Rocha

Foi a incômoda sensação de estagnação profissional que ligou o alerta no soteropolitano Jeff Wendell. “Eu percebi que estava crescendo em oportunidades diferentes daquelas que eu almejava na profissão. Na prática, estava parado”, diz.

Foi aí que o (hoje) especialista em marketing, professor e palestrante, de 33 anos, decidiu - em 2004 - deixar o Estado da Baía de Todos os Santos e tentar, do zero, uma vida nova no Rio de Janeiro. Mudança arriscada, mas com boas perspectivas de um futuro melhor. Deu certo.

Atualmente sócio-diretor de uma agência na capital fluminense, Jeff obtém retorno financeiro expressivamente maior com a vida “fora” do que se trabalhasse em Salvador, onde nasceu. “Apesar do início com muitas dificuldades, o risco valeu: o que já conquistei financeira e emocionalmente (no Rio) eu não alcançaria na minha cidade”, afirma.

MIGRE-ME Wendell é só um dos representantes da tal migração financeira, nome floreado de um comportamento expresso por aqueles que se mudam de suas cidades ou Estados natais e partem para outros, em busca de um lugar mais confortável ao sol.  

A migração para o sucesso produz, de fato, bons resultados. De acordo com o economista Luiz Carlos Day Gama (veja foto), o migrante brasileiro é mais escolarizado e recebe salários superiores aos do brasileiro que não migra. A constatação faz parte de um estudo para mestrado (leia aqui o trabalho completo), que analisou dados dos censos do IBGE nos anos de 2000 e 2010, de indivíduos entre 25 e 65 anos, defendido por Gama no primeiro semestre deste ano, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Esse brasileiro migrante e bem-sucedido, no entanto faz parte de um padrão específico da sociedade: é homem, branco, jovem, residente em área urbana e com maior nível de escolaridade. “Como a migração é um investimento, a pessoa precisa ter um capital inicial para se mudar para outro lugar. E o branco, com maior nível de escolaridade, costuma dispor mais facilmente desse capital”, afirma Gama.

A boa notícia é que a diferença de cor, no entanto, tem se tornado, gradativamente, menos influente. As análises censitárias da última década mostraram ao pesquisador que o brasileiro branco continua migrando mais que o negro, mas a distância entre eles diminuiu na migração em geral, e, na de retorno - aquela em que o migrante volta para a cidade natal, os negros ultrapassaram os brancos.

DE VOLTA Outra constatação da pesquisa de Gama é que mais gente tem retornado para casa. Se o número de migrantes, em geral, diminuiu, a taxa de pessoas que voltaram para suas cidades cresceu, passando de 967 mil, no ano 2000, para 1,3 milhão, dez anos depois. O motivo, segundo Luiz Carlos Gama, é reflexo das melhorias na qualidade de vida nas regiões Norte e Nordeste do país, que incentivam a volta.

“Uma pessoa que deixa o Nordeste para fazer a vida no Sul e no Sudeste agora tem incentivo para voltar, pois sua região de origem está mais desenvolvida e consegue oferecer os salários maiores que ele foi buscar fora de lá”, diz.

O pesquisador ainda destaca a importância do aumento da migração de retorno, já que ela corrige distorções do movimento migratório, como a “fuga dos cérebros” - em que os profissionais mais qualificados abandonam suas regiões para procurar outras, mais desenvolvidas.

“A migração de retorno é um fenômeno importante para explicar alguns aspectos da economia, e devemos dar a ela ênfase como política pública. Incentivar o migrante a voltar para aplicar seu conhecimento na sua cidade de origem é essencial para diminuirmos as disparidades entre as regiões Norte/Nordeste e Sul/Sudeste. A diferença salarial entre as regiões do país diminuiu, e áreas onde houve crescimento da migração de retorno apresentaram também grande aumento da renda do trabalho”, analisa Gama.

NAS ESTRADAS Duas ricas experiências de migração fazem parte da breve carreira de Watson Hermann. Recém-formado no início de 2007, o varginhense (hoje com 28 anos) deixou o conforto da família, as escassas vagas de trabalho na área de biomedicina e o frio do Sul de Minas para buscar realização profissional (e pessoal) na capital dos mineiros.

Em Belo Horizonte, trabalhou por três anos como bolsista do governo federal e se pós-graduou. Com renda insuficiente, devido ao que ele caracteriza como “mínimo investimento em pesquisa no país”, Hermann aproveitou a abertura de uma vaga em um laboratório de análises clínicas em Santos e seguiu para o litoral paulista.

“No começo estava tudo ok, mas logo depois chegaram as dificuldades, como o alto custo de vida: aluguel, comida, tudo muito caro. Não adiantava receber um bom salário se os gastos eram maiores”, conta.

Além disso, havia a saudade da família e dos amigos. “Essas coisas geraram em mim a necessidade de fazer o caminho de volta”, relembra. Aprovado em dois processos seletivos, ele voltou para Minas. Hoje, financeiramente estável - em um cargo no governo estadual e outro  em uma empresa privada - ele guarda a experiência da migração.

“Acabei tendo uma experiência boa ao sair de Varginha e ir para BH e outra, nem tão agradável, com a ida a Santos. No entanto, hoje sei que, se um dia mudar de novo, deverei, antes de qualquer decisão, analisar melhor e mais atentamente todos os fatores interferentes sobre morar numa cidade oposta àquela de origem”, afirma.

MULTIMÍDIA Se você tem interesse em tentar carreira em outro lugar, assista ao nosso vídeo com a Fernanda Schroder Gonçalves, coordenadora de carreiras no Ibmec Minas. Ela fala sobre a importância da migração na carreira profissional. Vale o clique!

 

Fonte: O TEMPO

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