Estado e Prefeitura de BH assumem estar diante de quadro de epidemia de dengue
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Emergência- Pacientes precisam aguardar até do lado de fora de hospitais como o Belo Horizonte, sobrecarregados com a explosão da procura |
O número de notificações no estado até agora (123.694) já corresponde a quase três vezes o total registrado em todo o ano passado (46.681) e pode ser considerado tão grave quanto a situação de 2010, quando houve mais de 268 mil casos suspeitos em Minas. Diante do quadro, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) promete investir R$ 4,5 milhões na contratação de profissionais de saúde e agentes de combate a endemias. Já a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), que passou a abrir postos nos fins de semana, inaugura hoje um contêiner especializado no tratamento de pessoas com sintomas da dengue. A estrutura está funcionando ao lado da Unidade de Pronto-Atendimento Venda Nova. Na rede particular, corrida pela contratação de médicos e enfermeiros, além do remanejamento de equipes, em uma tentativa de diminuir a espera dos pacientes em filas de até seis horas.
Em Belo Horizonte são 4.215 casos confirmados, sendo um de febre hemorrágica – forma mais grave da doença. Outras 8.644 ocorrências estão sob investigação e o quadro também é tratado como epidêmico. “Há cálculos específicos para definir uma epidemia, mas não estamos nos atendo a números. Estamos agindo de modo a superar esse quadro”, afirma o secretário municipal de Saúde, Marcelo Teixeira.
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pressão - No Semper e no Socor, equipes médicas não dão conta de atender toda a demanda, nem mesmo depois de reforço |
No pronto-socorro do Hospital Semper, no Centro, não tem sobrado uma cadeira vazia na sala de espera, onde os pacientes chegam a aguardar até seis horas para conseguir atendimento. De acordo com a gerente assistencial da instituição, Alessandra Fantaguzzi Praça, com a epidemia o movimento cresceu cerca de 50%, saltando de 400 para 600 pacientes por dia. Uma verdadeira operação de emergência foi montada no hospital, para dar conta da demanda. “Houve sobrecarga a partir do fim de fevereiro. Dobramos as equipes médicas nos fins de semana e aumentamos os plantonistas de dia e à noite”, conta. Mas nem assim a situação está controlada. “Os pacientes têm esperado de quatro a seis horas”, reconhece a gerente.
A sobrecarga também é realidade no Hospital Socor, no Barro Preto, Região Centro-Sul. De acordo com a chefe de enfermagem, Ana Célia Duarte Pinto, a demanda no pronto-socorro aumentou 30%. “Na comparação com o ano passado, os atendimentos a casos da doença subiram 81% nos meses de janeiro e fevereiro”, ressalta. Prostrados e recebendo hidratação, metade dos pacientes na sala de observação apresenta sintomas típicos da dengue.
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Carlos Starling
Vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia
Combate ininterrupto
“A situação em Minas pegou as autoridades de surpresa. A circulação do sorotipo 4 do vírus da dengue encontrou muitas pessoas sem imunidade e fez aumentar o número de casos, mas a intensificação de medidas preventivas poderia ter minimizado o problema. O avanço da doença no estado foi muito superior ao que se esperava, mas as ações de combate ao mosquito não deveriam ocorrer somente durante a epidemia. O combate deve acontecer o ano inteiro, em conjunto com medidas preventivas individuais, colocadas em prática pela própria população.”