Economia tem viés de alta e depende do investimento, da indústria e da competência
À véspera do anúncio do desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre pelo IBGE, com aumento trimestral estimado em torno de 1% a 1,1%, contra 0,5% no período anterior, o cenário dos economistas se volta para o resultado da economia em 2013. O deste ano está dado, devendo ficar na faixa de 1,3% a 1,6% sobre 2011.
As expectativas até meados do próximo ano vão definir o ritmo do investimento, estando nele o propulsor futuro do crescimento, até agora movido pelo consumo. A confirmação dessa diretriz vitaminará as taxas pífias de crescimento do PIB, aumentando para a presidente Dilma Rousseff as chances de um segundo mandato. A frustração, além de prolongar as incertezas, prenuncia uma eleição mais acirrada.
A moldura do quadro econômico em formação sugere que o PIB deverá ser melhor em 2013 que este ano, com as projeções de crescimento variando de 3% a 3,5% (cenário do economista José Roberto Mendonça de Barros) a 4,5% (estimativa do governo). A dispersão dos cenários se deve às expectativas sobre o desempenho do investimento e da produção industrial, ambos com resultados negativos em 2012.
O crescimento tenderá mais para 4,5% que para 3% dependendo do que o empresariado intuir que será, assim como da competência do setor público em deslanchar os investimentos em obras de infraestrutura.
Por ora, a burocracia encarregada desses projetos desempenha papel assemelhado ao do Cavalo de Troia. Os ajustes regulatórios enfiados goela abaixo também são de pouca valia para compensar os percalços na execução das obras públicas, assim como para desfazer os receios do empresariado. Com melhor comunicação, Dilma poderia colher tanto quanto ela espera das novas concessões de logística. E até mais.
Atrapalhada entre as armadilhas da política, que volta à porta do Palácio do Planalto com o novo escândalo envolvendo figurões do PT investigados e presos pela Polícia Federal, e a inépcia executiva do programa de infraestrutura, Dilma depende da gestão da economia para fazer a diferença. E ai os prognósticos são mistos. No curto prazo de um ano, o viés é de alta. Mais que isso ainda é incerto.
As novas metas do tripé
O que pode comprometer a economia é menos o que alguns economistas pontificam em artigos e entrevistas em jornais – o desmantelamento do tripé formado pelo superávit primário, pelas metas de inflação e pelo câmbio flutuante. Os três pilares estão mantidos, mas não como antes, devido à excepcionalidade da situação econômica no mundo.
O Banco Central afinou a Selic até 7,25%, não obstante a inflação esteja acima da meta (4,5%), mas abaixo do teto de variação (6,5%). O BC assegura que antes disso entrará em ação. Ela está girando a 5,6% em doze meses. O câmbio saiu de R$ 1,60 para R$ 2,05 a R$ 2,10 em um ano, e tende a escalar o patamar de R$ 2,30 até fim de 2013, mas condicionada à inflação e ao ritmo da indústria.
Premissas para crescer
O propósito da derrocada do real é mais conter as importações que aumentar as exportações num mundo de vendedores e capacidade ociosa da indústria em toda parte, inclusive aqui. Tal cenário deve ficar assim ao longo de 2013, o que permite relaxar o superávit primário, até então com meta de 3,1% do PIB e tendendo, este ano, a 2,3%.
A política fiscal, segundo a consultoria LCA, foi neutra em 2011, em termos de impacto sobre a atividade econômica, e expansionista este ano, o que deverá ser ampliado em 2013 e 2014, sem pressionar a inflação. O menor reajuste real do salário mínimo, estimado em 2,7% em 2013 e 1,6% em 2014 – bastante abaixo dos 7,5% em 2012 e à média de quase 6% entre 2004 e 2011 –, deve conter o consumo.
Não há também a expectativa de que o crédito volte a dar um salto. As regras do chamado Acordo de Basileia 3 (que aumentam a qualidade e o volume do capital da banca) começam a vigorar em janeiro e vão limitar, no início do ajuste, o multiplicador bancário.
Inflação é nota de corte
A nova configuração da economia brasileira, refletindo em parte as mudanças em curso no mundo, justifica a revisão dos parâmetros do tripé da macroeconomia observado com pouca variação desde 1999. E o estreitamento dos recursos fiscais e financeiros para dinamizar o crescimento, sobretudo depois das várias desonerações anunciadas e outras esperadas (como dos itens alimentícios da cesta básica), fez do câmbio a última variável disponível para impelir a indústria.
Apesar do risco de exagerar a simplificação, é como se as metas de fôlego da estabilidade econômica estivessem mudando de patamar (com superávit primário menor e câmbio administrado até atingir um nível maior de depreciação) antes que volte a outra “normalidade”. A arte ao BC é não deixar a inflação perder o horizonte da meta central.
Fonte: Estado de Minas